Todo botafoguense é movido por um sentimento de masoquismo colossal, de enfrentar o abismo de olhos abertos, repetir a máxima "certas coisas só acontecem comigo" e não mover uma singela palha pra que o rumo seja alterado. Foi com esse sentimento, que carrego por gerações que me preparei para a Copa de 86.
70 neles outra vez Brasil, uma overdose de otimismo tomava conta do País, liberdade de expressão, fim da ditadura e a promessa de que 82 seria facilmente esquecida pelo novo escrete canarinho...Mas eu não acreditava, e sempre que pedia cautela, levava um safanão ou era vorazmente repreendido pelos ufanistas de plantão "Pare de urubuzar nossa seleção". Claro, o Tele convocava o Elzo e eu era o culpado por temer pelo pior. Confesso que até a Argelia me metia medo, e soltei um grito de alivio quando o Josimar enfiou aquele petardo marcando o terceiro gol...pensei, ele vai voltar da Copa e jogará como nunca! Voltou da Copa, encheu a cara, bateu na mulher, foi preso, e só foi dar a volta por cima no dia 21 de junho de 1989, a maior data republicana do Brasil, a assinatura da Lei Áurea alvinegra.
Fui criado nesse meio. Vendo a Xuxa se roçar nos convidados, as paquitas com as pernas juvenis de fora, Sarney falar em congelamento de preços, o pessoal da rua imitando os mongolóides que esqueceram de crescer da Blitz. Na tv, Armação Ilimitada moldava o comportamento da classe média, um casal homossexual que só queria saber de surfe e dividir a cama com Zelda Scotch(minha segunda punheta...a primeira foi pra Vovó Mafalda), sob os olhares atentos e aturdidos do jovem Bacana...Até me identificava com ele, Bacana era o simbolo de nossa geração... Com tantos exemplos em casa de promiscuidade só poderia virar um pervertido. Enfim...eu era um estranho num mundo New Wave, cheio de babaquice e viadagem explicita. Tinha ator que se envergonhava de se proclamar heterossexual, sob pena de ser linchado em praça publica e chamado de careta e reacionário. Acabei pegando uma aversão a essa sociedade e rezava pelo surgimento de um Lech Walessa no país, pra tentar consertar a quizomba tramada pelos milicosNão tardou para eu assumir pela primeira vez o controverso carater de ser "do contra".
Ainda na primeira fase eu ficava embasbacado com o futebol do argentinos, aplaudia a Dinamáquina, ria dos lances de Platini, me emocionava com os mexicanos, mas não me cansava de torcer pelos Russos...Uma seleção fraquissima, de um país com um futebol aquém de nossa mais combalida várzea, se segurava como um esfomeado num prato de comida. Começaram a copa goleando os hungaros por 6 x 0, depois na garra empataram com os temidos franceses e ganharam a vaga para as oitavas num jogo enfadonho e burocratico contra o Canadá
Aí começa o meu grande jogo. O cruzamento de grupos fez com que Belgas e Russos se enfrentassem pela Copa de 86 naquilo que considero a maior batalha ideológica travada num estádio desde Pitombense X Barreirinhas. Eu sempre sonhei com uma revolução dentro de um Estádio, numa partida de futebol, sem que nenhum tiro fosse desferido. E aquele era o dia pra mim.
A URSS começou na frente, com Belanov, e não parava de atacar um só instante, bico pra frente dos belgas e logo voltava o exercito vermelho(que esse jogo estava de branco). Era comovente ver a zaga belga bater cabeça a cada ataque soviético, que chegavam com muita facilidade. Dassaev, uma muralha, quase não trabalhou no primeiro tempo, o maestro Zavarov entortava seus adversários, parecia mais um jogo treino, e assim os cossacos foram para o intervalo com a convicção de que a vaga estava garantida. Na volta para o segundo tempo, os russos estavam numa água só...Foram 15 minutos de brinde com vodka e orgia com ninfetas russas...é impressionante o que se pode fazer num curto intervalo, ainda mais quando voce está longe dos vigilantes olhares comunistas. Os russos se deixaram seduzir pelo diabo do capitalismo, e isso foi a sua ruína. Malditos consumistas, IBM, Coca Cola, sexo barato, bem...não é tão mal assim. Mas tenho certeza que pelo menos uns 8 jogadores vermelhos voltaram do intervalo com patrocinios assinados. Era um festival de perder gol e se lamentar mostrando alguma placa de publicidade...
Os Belgas, que eu só conhecia através do canários que meu pai criava no quintal, resolveram partir pra cima, e na garra fizeram um gol de empate relampago com Scifo, que deixaram os sovieticos mais nervosos que uma canção romantica de Wladimir Visotsky. Os contratos foram incinerados, agora virou guerra. Um exército vermelho foi visto marchando rumo ao México e os bolcheviques resolveram cobrar explicações sobre a morte de Trótsky naquele instante. Maldita terra mexicana, tão longe de Deus, tão proxima do diabo(EUA). Começou uma batalha campal similar ao Vietnã, era pernada aqui, soco acolá, dedo no olho, rabo de arraia, pescoção, chave de braço e surra de pau mole. Belanov fez 2 x 1, mas os belgas empataram no fim do segundo tempo, com um gol de Ceulemans em clarissima posição de impedimento, levando a partida pra prorrogação. Os sovieticos só precisavam de um motivo pra mostrar ao mundo o quanto eles estavam sendo injustiçados...Porém nossos comentaristas, que até hoje desferem bobagens diarias mostravam sua famosa parcialidade. "Vá lá, foi apenas um erro, paranóia dos russos, mania de perseguição..." Não adianta argumentar contra os furiosos e prejudicados. O circo estava armado!
Não havia uma única alma indiferente naquele instante. Ou estava contra, ou a favor, para delírio de Marx e Keynes no céu, que viam sua peleja ser disputada tapa a tapa, numa divisão clara do mundo, pela primeira vez declarada. A Belgica fez o terceiro, novamente em impedimento, dessa vez de pelo menos 2 metros. A imprensa brasileira emudece(graças a Deus, por mim Galvão ficava em silencio pelo resto da vida), os belgas comemoram de forma timida, envergonhada, destoando de quem estava ali com a vaga nas mãos, e o quarto gol logo em seguida foi esfusivantemente vaiado pelos mexicanos. Um resultado tão adverso seria algo que derrubaria qualquer país, mas não os russos, que se lançaram com todos os jogadores que tinham para o ataque...fantástico, Belanov marcava pela terceira vez faltando 5 minutos para acabar a prorrogação, e na linha lateral um torcedor enfurecido berrava que a honra estava em jogo.
Então o incrível aconteceu, Aleinikov fechou o olho e mandou a mamona no angulo...eu berrava feito um louco, Belanov ajoelhava-se com mãos para os céus e o campo era invadido numa festa pagã mais animada que o carnaval carioca. Demoraram 10 minutos para tirarem os torcedores de campo, e mais uma vida inteira para explicarem aos russos que o gol havia sido invalidado. O juiz, e somente ele, viu falta de alguem na área, que nem participava do lance. Ali eu entendi, que por mais que eu queira, o mundo não será justo, os reguladores da moral e bons costumes sempre vão impor o correto(para eles). Na mão grande, roubaram os russos, apenas por eles desejarem um mundo sem excluídos, por não admitirem o colonialismo barato e covarde norte americano, sob os olhares submissos dos europeus. De um cinismo atroz, a imprensa tentou desvencilhar o ocorrido em campo, do campo ideológico. Era óbvio demais até para uma criança como eu na época, que eles não iriam deixar que os russos virassem exemplo para toda uma sociedade. Nem toda a guerra fria, toda a propaganda ocidental, as luzes da Ribalta e o fascinio por tentar fazer parte dos 2% endinheirados, conseguiu o feito daquele dia, uma derrota com um impacto tão fulminante que ficará conhecido como o dia em que o comunismo ruiu.
Pepe Sanchez é comunista e come criancinhas...como todo padre
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13 comentários:
O comunismo ruiu no dia em que os russos explodiram a Lua...mas que falta de conhecimento historico!
Tá louco? Ninguem explodiu a lua...isso nunca aconteceu
Ta bom Robledo...tá bom...
A Lua foi bombardeada quando so 3 americanos com nome de cantores de jazz supostamente haviam chegado a lua...Mas na verdade eles estavam numa gravação no deserto do Texas, a montagem mais bem redigida da humanidade, pois foi feita por Stanley Kubrich
Leigos...
A imagem que vimos diariamente é um holograma
Holo o que?
Grama
Poxa!
A primeira cosmonauta a pisar a lua foi alemã. Ele pisar lá muito antes de Amérrrica ser descoberta
Quando ele chegou lá, viu uma nuvem de poeira?
Iá...ele vir sim, falar uma vez na tv
Era o peido do meu pai!
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